Envelhecer até aos 80 anos

A figura agastada e cansada que os telespectadores vêem a sair da banheira é a de um duplo que substituiu o protagonista Diogo Morgado na cena mais polémica de ‘A Vida Privada de Salazar’, que estreou ontem na SIC.
A produção da Valentim de Carvalho Filmes decidiu mudar a história e trocar a lendária queda da cadeira por uma outra na banheira, que garantem ser "a verdade, contada por alguém que a tal assistiu". Aí, a imagem nua de um homem de quase 80 anos não poderia ser interpretada por um actor de 29. Mas tudo o mais foi entregue a Diogo Morgado, que ficou "assustado" ao receber o convite para interpretar o chefe do Estado Novo na série da SIC.
"A caracterização demorava duas a três horas diárias, e isso era difícil, mas compor a postura e a personalidade de Salazar foi ainda mais complicado", explicou ao CM.
Segundo o realizador Jorge Queiroga, as gravações foram feitas "cronologicamente para não obrigar o actor a mudar constantemente de imagem". Difícil na rodagem foi "coordenar caracterização, maquilhagem e guarda-roupa" numa minissérie que "abarca períodos tão diferenciados da História".
Além de Salazar, o cardeal Cerejeira, interpretado pelo actor Filipe Vargas, foi outra das personagens mais difíceis de compor. "Imagine três horas de caracterização com Diogo Morgado e outras três com Filipe Vargas", sublinha Jorge Queiroga, que dirigiu também a série ‘Conta-me como Foi’, na RTP 1.
Ainda assim, garante o realizador, "é sempre mais fácil envelhecer um actor do que rejuvenescê--lo. E é isso que se costuma fazer, até em Hollywood". Dar "credibilidade" à personagem de Salazar foi a grande preocupação da equipa de caracterização.
"VOYEURISMO E BANALIZAÇÃO"
"Se a série explicar em que suporte se baseia para contar que Salazar caiu na banheira, não me choca. Será uma versão historiográfica como outras. Se o não fizer, será apenas uma versão artística", diz ao CM o historiador Rui Tavares.
De ‘A Vida Privada de Salazar’, o historiador explica conhecer apenas a "promoção feita na televisão". E confessou não ter "grande interesse" pelo formato por lhe parecer "não trazer um novo contributo". "Acho é que há um certo voyeurismo e uma certa banalização de uma figura que fez bastante mal ao País", conclui.
PORMENORES
A CARACTERIZAÇÃO
Sano de Perpessac é a responsável pela caracterização de Diogo Morgado na pele de António de Oliveira Salazar.
BRANCO MAIS DIFÍCIL
Criar as cabeleiras brancas foi o mais difícil na criação da imagem do ditador, diz a caracterizadora, que só trabalha com cabelo real e que constrói as cabeleiras à mão. "Agora ninguém quer o cabelo branco. Fiz telefonemas para todo o Mundo, até para a China."
A RODAGEM
Ao longo das seis semanas que durou a rodagem desta minissérie da SIC, a equipa da caracterização foi a mais laboriosa. Chegou a trabalhar 12 e 13 horas por dia.
fonte: CM

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