Daniel Oliveira em entrevista

Consultor de "light entertainment" acredita que "Fama Show" veio trazer brilho à antena de Carnaxide. Em defesa do "Tá a gravar", diz que o programa tem estrutura, um conceito
Aos 28 anos, Daniel Oliveira diz não ter atingido o cume da montanha. Há mais de uma década nos meandros da comunicação, foi na SIC que inaugurou o percurso, embora tenha sido a RTP, com o "Só Visto", a dar a conhecer o seu rosto.
Mas a fama não se esgotou ali. Aliás, é o programa "Fama show", que celebra hoje um ano com o entrevistado Cristiano Ronaldo, o responsável pelo roubo da liderança das audiências nas tardes de domingo à estação pública. Recentemente nomeado consultor externo de "light enterteinment" de Carnaxide, assevera que nada mudou. Ambicioso, "no bom sentido", perfeccionista, "dentro razoável", a perseverança, não lhe permite gozar de "retroactivos".
Porque começou tão cedo a carreira?
Desde muito novo que era fascinado pelo mundo da comunicação. Com 13 anos, fundei um jornal a título de brincadeira que me permitiu depois entrar para a SIC. Vinha para as instalações fazer entrevistas às figuras da estação, até que alguém reparou em mim.
Acabou por ser um autodidacta.
Tivemos cursos de formação quando começou a SIC Notícias. Mas qualquer profissional da área só se prepara no terreno.
A sua carreira debutou em Carnaxide. Entende a SIC como a sua casa-mãe?
Foi aqui que comecei, mas não me esqueço dos cinco anos fabulosos que passei na RTP. Porém, o facto de ter entrado para a SIC com 16 anos é algo que me está agarrado à pele: uma relação umbilical.
É considerado por muitos o pupilo de Nuno Santos. Sente esse estigma?
Não. Tanto as pessoas que trabalham comigo como quem observa à distância, caso do público, não dirá que o que tenho conseguido fazer é por ser amigo de quem quer que seja. Já o provei com os programas que fiz.
Tem uma forte ligação ao futebol. É uma paixão que ficou por cumprir?
De certa forma não ficou por cumprir, pois a minha actividade permitiu que estivesse muito próximo do meio, ainda que de forma menos activa. É um mundo de que gosto e onde tenho alguns amigos.
Ganhou um prémio com um trabalho sobre um jogador. Ter essas relações privilegiadas não facilita a tarefa?
Essa confiança nasce do trabalho. Travei o primeiro contacto com a esmagadora maioria dos jogadores que conheço em trabalho. Embora depois tenham nascido amizades sólidas. Em relação ao prémio, é evidente que ser o Cristiano Ronaldo no ano mais importante da sua carreira, ajudou. Mas o trabalho estava bem feito.
Partilhou das dores de barriga dele antes do anúncio do melhor jogador ?
Fiquei muito satisfeito. Em Maio, quando fiz os "Incríveis", manifestei a convicção de que ele seria o vencedor. Senti no fundo o que todos os portugueses sentiram: um enorme orgulho em ver um dos nossos chegar ao topo.
O "Só visto", da RTP, foi o formato que lhe deu visibilidade. Tem saudades?
Tenho saudades do início do programa, dos primeiros três anos. Apesar de ser nostálgico, sou também muito prático.
O seu "dom" de fazer chorar os convidados era natural?
Pretendia-se que aquelas entrevistas fossem marcantes. O "Só visto" ensinou-me que uma boa preparação sobre a pessoa que vai ser entrevistada, toca essa pessoa.
O "Fama show", da SIC, já o ultrapassou em audiências.
O "Fama" tem alma, não são só cinco fantásticas apresentadoras bonitas a dar a cara. Tem um corpo, uma forma, um cuidado extremo com que é preparado e representa uma lufada de ar fresco no panorama televisivo. O que o "Fama" conseguiu foi devolver algum "glamour" à antena da SIC. É entretenimento puro.
Não será a receita infalível juntar um grupo de mulheres bonitas...
Isso pesa, claro. A forma como elas abordam os convidados, o atrevimento que têm e a sua beleza é importante. O perceber que este modelo poderia ser líder é que está a fazer a diferença.
Há aqui uma instrumentalização do estereótipo da beleza feminina para servir a causa das audiências?
Não. A maioria do público do programa é feminino. A análise pode ser feita no sentido inverso, que é ter uma visão feminina do mundo. Necessariamente bonita, "glamourosa", com estilo. E o trabalho delas não se resume à beleza. Seria impossível este sucesso se assim fosse. A sua agilidade em fazer a pergunta certa no momento certo não tem rigorosamente nada a ver com a beleza.
Qual é a diferença entre entretenimento e "light-entertainment"?
Tem a ver com os níveis de produção e de investimento, sendo que a televisão hoje em dia, cada vez mais, por força da crise e não só, precisa de programas "light-entertainment": que disponham bem e que não tenham custos de produção valiosíssimos.
O segredo é ir por aí?
O "light-entertainment" tem sempre espaço. Mas não há aqui um modelo estanque. Na SIC, tanto o "Fama", como o "Episódio especial", "Não há crise", ou o "Tá a gravar" já deram provas de êxito.
Principalmente o "Tá a gravar" tem colhido vários apupos da crítica, como olha para esses reparos?
São legítimos. Nos EUA, existe um programa do género há 40 anos. Não são as críticas que nos fazem desviar do caminho. Há uma visão muito redutora do que é o programa, que não é um repositório de imagens. Tem uma estrutura, um conceito, não é tão vazio como querem fazer ver.
Em período de crise as pessoas demitem-se mais de pensar e procuram o que é de digestão fácil?
O "Fama" e o "Episódio especial" entram num campeonato à parte, já existiam antes de se falar na crise. No caso dos outros pode ter a ver com a necessidade de fuga à realidade. Mas a televisão é isso mesmo: um escape.
fonte: site JN

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