Mário Carneiro nos bastidores do programa

Nos últimos 40 dias, o jornalista preparou o material - pesquisa e actualidade - que serviu de base ao programa de humor. Hoje, pode dizer: "Os políticos não se podem gabar de terem eterna coerência"
Mário Carneiro conhece Ricardo Araújo Pereira como pouca gente, uma vez que foi na qualidade de seu professor de jornalismo que estabeleceu o primeiro contacto. Vinte anos depois, o pupilo convida-o para trabalhar com ele num programa de humor.
"Fui professor dele no Colégio São João de Brito", conta Mário Carneiro. Depois, "na TVI, seu orientador de estágio". Manteve-se, entretanto, "uma relação interessante" e uma chamada telefónica no início de Setembro fez a ponte para a parceria profissional. Mário Carneiro, cara de alguns programas discretos da RTP2, coordena a equipa de jornalistas responsável pela pesquisa do material político com que se alimentou o programa de humor "Esmiúça os Sufrágios", transmitido pela SIC até sexta-feira.
Nesta fase profissional em que optou por trabalhar em função de projectos e em regime "free lancer", Mário Carneiro, pivô de programas como "Nós" ou "Causas Comuns", tinha terminado de escrever uma série de guiões para o programa da RTP "Navegadores.pt", quando o telefone tocou. Do outro lado estava Ricardo Araújo Pereira.
"Para um projecto destes está-se sempre disponível", lembra, a respeito da reacção mais instantânea ao convite.
Seguiram-se um conjunto de decisões velozes. Ricardo Araújo Pereira deu-lhe carta branca para formar equipa. Num ápice, reuniu Filipa Brazona, a número dois na coordenação, Marta Neves e Pedro Homero. Os três jornalistas e o licenciado em Comunicação Social começaram a rumar diariamente para a SIC e a fazer daquela estação a sua segunda casa. "Temos trabalhado uma média de 14 horas por dia. Estamos cá desde as oito da manhã". Afinal, tratava-se de um programa diário cuja incidência era a actualidade política e em pleno período eleitoral.
Mário Carneiro faz questão em salientar o peso do trabalho de Ana Franqueiro, da parte do arquivo SIC. Era ela quem conseguia descobrir as imagens certeiras, muitas vezes, a partir de uma simples suspeita pouco definida. Assim se chegou, por exemplo, à peça onde Cavaco Silva, então primeiro-ministro, reclamava, diante da desconfiança da existência de escutas no gabinete do procurador Cunha Rodrigues, uma acção urgente das entidades responsáveis. O episódio, de 1994, foi lembrado numa altura em que o presidente da República optou pelo silêncio sobre a alegada vigilância da sua Casa Civil, assunto que borbulhou a meio da campanha para as eleições legislativas.
Esta técnica de trabalho - recuperar o que os políticos disseram no passado - dominou o processo de pesquisa do grupo de jornalistas ao serviço do "Esmiúça os Sufrágios". Mas haverá políticos mais fáceis de apanhar em falso do que outros? "Todos são fáceis de trabalhar, têm exposição pública, e não se podem gabar de terem eterna coerência", responde Mário Carneiro.
O jornalista lembra ainda que se encontraram muitas semelhanças entre as movimentações e discursos utilizados aquando da formação do Governo minoritário de António Guterrres e o que passou na véspera de formação do novo executivo. "Mudaram alguns figurantes, mas alguns até são os mesmos como Manuel Alegre".
Onde foi mais difícil descobrir brechas no discurso, pelas características e posturas enraizadas nessa ortodoxia, conta Mário Carneiro, foi na CDU.
fonte & foto: site JN

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