Eduardo Madeira e Marco Horácio em entrevista

Eduardo Madeira e Marco Horácio são as estrelas do novo programa de humor da SIC, "Notícias em 2ª Mão", que estreia na próxima terça-feira dia 23 e passará todos os dias depois do "Jornal da Noite". O espaço promete ser uma revisão humorística, crítica e incómoda da actualidade. O Expresso falou com os dois humoristas.
"Notícias em 2ª Mão" é um programa anunciado como sucessor de "Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios". Um humor marcado pela actualidade, feito num formato diário, é arriscado?
Marco Horácio (M.H.) - Não concordo. São projectos completamente diferentes, como o público irá perceber. É claro que tem uma componente muito grande de actualidade, mas isso também tinha o "Levanta-te e Ri" e tem os "Contemporâneos". Se é arriscado? Quando se quer elevar o patamar, como nós queremos fazer neste programa, é claro que é arriscado, mas o produto final fica com mais qualidade e quem ganha é o público. E eu nunca tive medo do risco e de me envolver até emocionalmente com o que faço. Sou exigente e tenho a perfeita noção de que a televisão deve ser feita para as pessoas e não para o nosso ego. É isso que tento fazer.
Eduardo Madeira (E.M.) - Sim, é muito arriscado, por vários motivos. Primeiro, porque o Gato o fez no mesmo canal e com assinalável sucesso. Segundo, porque queremos não só agradar como também inovar. Não queremos apenas fazer um late night show, como o do Connan ou do Leno ou um daily show à la Jon Stewart. Gostávamos de tentar fazer "something completely different", como diria John Cleese. Algo moderno, mas ao mesmo tempo profundamente português. Não sabemos se vamos conseguir, mas assumimos desde já o compromisso de que vamos dar o tudo por tudo a tentá-lo (esta parte do compromisso já demonstra alguma influência do discurso dos políticos no tom das nossas respostas).
O programa assume-se como um olhar crítico, satírico, inconveniente, tendo Portugal e os portugueses como os visados. Somos sempre muito criticáveis? E menos críticos?
M.H. - Temos, como povo, uma grande capacidade de rir de tudo... menos de nós próprios. É algo que tem vindo a melhorar. Acho que o humor tem de ter um papel crítico na vida dos portugueses - e não só lúdico. Temos um dever social como humoristas. A crítica e o humor aliados formam uma grande arma e deve ser usada para despertar mentalidades e alertar para situações de injustiça ou simples estupidez humana. Acho que todos nós somos criticáveis, há pessoas que lidam melhor que outros com a crítica. Eu, como aceito qualquer tipo de crítica mesmo sendo disparatada, parto do princípio que as pessoas também o fazem. E o 25 de Abril já aconteceu em Portugal... ou não?
E.M. - Somos muito criticáveis, bastante críticos, mas normalmente pouco receptivos às críticas. O português diz mal de tudo e de todos, até de si próprio, mas se for um vizinho ou um estrangeiro a criticar ou a dizer exactamente o mesmo que já dissemos do nosso país a coisa azeda logo. Basta imaginar o que aconteceria se um qualquer Lord Byron da vida se tivesse posto alguma vez a analisar as idiossincrasiazinhas de Portugal e dos portugueses, como fez, por exemplo, e tão bem, o Eça de Queirós. Não só era corrido à bengalada do país naquela época, como hoje ainda era um proscrito.
Prometem incomodar muita gente, surgem logo a seguir ao telejornal e vêm comentar notícias. Querem ser um problema?
M.H. - Mais do que um problema, gostava de ser uma solução. No sentido de entreter e divertir as pessoas neste tempo de crise. Além disso, gosto de pensar que falamos por muitas pessoas que estão em casa a ver-nos. A ver se é desta que tenho direito a algum processo. No humor, não deve haver intocáveis, por isso é que se chama humor... Se as pessoas levam a mal é porque há um fundo de verdade no que dizemos.
E.M. - O pessoal que dá notícias em primeira mão já parece estar com problemas para o fazer livremente. Por isso, ao darmos as notícias em segunda mão, ainda devemos ter mais. Sempre ouvi dizer que as coisas em segunda mão dão mais problemas. Em todo o caso, mesmo não sendo nós jornalistas, estamos definitivamente do mesmo lado da barricada. O humorista, tal como jornalista, serve para dar a conhecer a verdade dos factos doa a quem doer. A diferença é que a maneira como o humorista o faz normalmente predispõe mais para o riso. Mas isso é só normalmente. Também há jornalistas que nos fazem rir.
Estão ambos de acordo sobre o que é um "humor inteligente e popular", como o programa promete fazer?
E.M. - O mais complicado é ser popular sem resvalar para o popularucho. Estamos num país onde o cantor que mais vende é o Tony Carreira e o que mais se vê em televisão são as novelas (algo só comparável a uma América do Sul). Ou seja, somos até certo ponto o México da Europa, até mesmo no que toca ao uso de bigode. Temos de saber lidar com isso, usando isso. E ter audiência pelo meio. Normalmente, as melhores coisas de humor feitas em Portugal não são grandes sucessos de audiência. Por isso a missão pode parecer impossível, mas os Gato Fedorento conseguiram fazê-lo. Nós vamos tentar o mesmo, nem que para isso tenhamos de pôr os telefones do Ricardo e companhia sob escuta.
fonte: site Expresso

Comentários