Entrevista a Marco Horácio

O humorista faz par com Eduardo Madeira à frente de "Notícias em 2.ª mão". O programa da SIC vai mudar de horário e passa a ir para o ar de segunda a sexta-feira
Quando Marco Horácio deu esta entrevista ao JN ainda não se sabia que o programa ia passar a ser emitido no horário "late night".
Ontem o humorista preferiu não falar sobre o assunto para actualizar o trabalho, limitando-se a dizer que a mudança pretende fidelizar espectadores. A estes estão prometidas explicações a 5 de Abril, quando "Notícias em 2.ª mão" regressar à antena da SIC, depois de uma pausa devido à quadra pascal.
O que é que "Notícias em 2.ª mão" acrescenta ao humor nacional?
Aquilo que se está a ver já foi inventado. Pessoas com bigodes, ou a falar de notícias, sketches sobre a actualidade... já foi feito. Agora, este programa junta tudo. E traz uma frescura e um olhar crítico e satírico próprio, que é meu e do Eduardo Madeira. A novidade é mesmo a grande qualidade do produto final. Nada neste programa é feito ao acaso .
O que é que acha desta explosão de formatos de humor que está a ocorrer na televisão portuguesa?
Tirando a TVI, que aposta mais na ficção nacional, acho óptimo. Em tempo de crise, rir, de facto, é sempre o melhor remédio. E quando se tem nos outros canais projectos com actores e humoristas de grande qualidade, quem ganha são as pessoas; que têm um leque maior. É sempre bom, até porque somos um povo habituado ao riso e ao humor.
Então os espectadores estão preparados para estes novos programas?
Sim. Está a ser elevado um bocadinho o patamar nesse sentido. Até porque o nosso dever como humoristas é dar a conhecer coisas que se fazem lá fora e provar que é preciso fazer outro tipo de humor em Portugal.
Depois do "Levanta-te e ri", podemos dizer que o "Salve-se quem puder" o relançou para a fama?
Não gosto muito da palavra "fama", porque não trabalho para ser famoso. Mas sim. O "Levanta-te e ri" foi um marco importante. Fiz uma data de coisas pelo meio, mas o "Salve-se" foi o programa que me aproximou, mais até do que o "Levanta-te e ri", do grande público. Chegou a toda a gente, principalmente aos mais novos que hoje em dia são quem manda no comando.
Tem saudades do despique com a Diana Chaves?
Tenho. A Diana é uma pessoa óptima, com quem gosto particularmente de trabalhar. É humilde, com muito sentido de humor.
O programa regressa, em princípio, no final da Primavera. Não teme que o papel de apresentador se sobreponha ao de humorista?
Sim. Por isso é que não está decida a minha participação no "Salve-se quem puder". Eu não sou a favor de estar muito tempo a fazer televisão. Com o "Notícias" e o "Salve-se" vou estar basicamente sete meses todos os dias no ar. Quanto à pergunta, eu sou actor e dentro desta ramificação faço de apresentador, de "entertainer", "stand-up", um pouco de tudo. Mas a minha formação é de actor.
Com o Rouxinol Faduncho recuperou a tradição do Fado humorístico. O que é que o cativou no estilo?
Gosto muito de Fado e respeito todos os fadistas. O meu objectivo foi recuperar um Fado humorístico que é tradicional, português e que há 30 anos ninguém fazia. A ideia era criar o personagem, gravar o CD, ir à minha vida e deixar os fadistas fazerem o seu trabalho. Entretanto já vamos em quase cinco anos de Rouxinol, 50 espectáculos por ano, com uma média de três, quatro mil espectadores oito programas de televisão, três CD, um DVD...
Quando decidiu enveredar pela carreira de actor, já era o humor que o cativava?
Quando fui para o Conservatório, tinha a ideia de que era conotado com alguém que fazia rir. Lá, interpretei Brecht, Tennessee Williams, Shakespeare, coisas completamente diferentes. Mas onde me sinto mais à vontade é no humor. Mas depois também gosto de fazer projectos como "Equador", que me dão gozo e me exigem muito mais concentração e introspecção.
Antes do Conservatório, quando é que descobriu que tinha graça?
Eu sou muito deprimente no dia--a-dia. Não sou o centro das atenções, nem o tipo que manda piadas. Mas fui assim quando tinha 16, 18 anos. Levo muito a sério o humor. Quando estou a trabalhar não há pessoa mais feliz por estar a fazer aquilo que mais gosta. Mas todo o processo anterior é exaustivo. Tudo antes é feito com muita seriedade, porque só assim faz sentido. Antes de entrar no Conservatório, nunca tinha visto uma peça de teatro. Fui na véspera das audições assistir a uma na Cornucópia. E consegui entrar. Acredito que as coisas não acontecem por acaso.
fonte: JN

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