Na véspera do jogo Portugal-Inglaterra, no Mundial-2006, Luiz Felipe Scolari sentou os jogadores no balneário e passou um vídeo na televisão. As imagens com mensagens da família de cada um dos jogadores tinham sido gravadas um mês antes pelo apresentador Daniel Oliveira. A história nunca passou para fora dos relvados, porque apresentador e seleccionador chegaram a um acordo: as gravações estavam reservadas à equipa. Daniel Oliveira tinha-se tornado mais uma carta dos truques de motivação usados por Scolari.
Depois disso, o apresentador haveria de conseguir acesso directo a imagens exclusivas dos bastidores da Selecção Nacional. E essas já foram públicas. Em 2008, iria ainda mais longe. Já para a SIC, entraria em casa até do melhor jogador do mundo, para filmar partes do seu lado mais privado: as mansões com closets para mil pares de ténis por estrear, os calções de banho e os mergulhos na piscina, as excentricidades ou a simples relação com o animal de estimação. "Os Incríveis" mereceram até sketches na RTP. "Os Contemporâneos" imitaram o apresentador: "És feliz, migo?"
Daniel Oliveira, que muitos acusam de bajular jogadores e clubes para conseguir entrevistas, garante que não se desfaz em elogios nem força amizades. "Não confundo cordialidade com falsa veneração. Mas também nunca me julgo superior ao meu entrevistado e isso é capaz de explicar muita coisa."
À volta do programa, circularam todo o tipo de rumores, como o de que a Galp pagaria as entrevistas aos atletas. Daniel Oliveira nega. "É tudo jogo limpo. Abrem as portas porque querem e não têm nenhuma contrapartida. Já ouvi as mais variadas histórias e parecem sempre argumentos de perdedores."
O truque é não ter truques Daniel Oliveira garante que sempre marcou entrevistas pelo método mais banal: ou pela selecção ou pelos clubes. Beto, ex-jogador do Sporting, foi o primeiro entrevistado, ainda para o jornal "Penalty", que escrevia, editava e vendia quando tinha apenas 13 anos. Jorge Andrade é seu amigo de infância - era com ele que jogava à bola nas ruas da Amadora - mas nunca lhe abriu caminho para outros colegas. Ao contrário do que se diz, não era um emplastro dos treinos de futebol. "Vi alguns treinos como adepto e espectador, não para correr atrás dos jogadores." Chegou a ser escolhido nos treinos de captação do Benfica e do Estrela da Amadora, mas nunca se tornou jogador profissional.
Ricardo, ex-guarda redes da selecção nacional, não foi convidado a abrir as portas de casa ao apresentador, mas adianta que outros colegas escolhidos para "Os Incríveis" abriram "porque o Daniel é uma pessoa respeitada por todos e que transmite confiança ao grupo. Enquanto esteve connosco, foi um bom amigo da selecção." E acrescenta: "Nem precisa de insistir muito. Gostamos dele e os trabalhos do Daniel falam por si."
O apresentador reconhece que terá mais facilidade em chegar aos jogadores porque o que faz não tem propósitos jornalísticos: é puro entretenimento. A carteira de jornalista deixou de ser renovada mal entrou para a equipa do "Catarina.com", na SIC. "Eu posso tomar partido, fugir das polémicas. Estou ali para mostrar simplesmente o melhor daquela pessoa."
"'Os Incríveis' tiveram mais impacto, mas a primeira vez que entrevistei o Simão Sabrosa, por exemplo, foi em 1998." O rapaz que ia para o edifício da SIC fazer entrevistas para o seu jornal "Penalty" teve uma entrada precoce no mundo televisivo: aos 16 anos já era assistente de produção d'"Os Donos da Bola". Depois de estar do lado do entrevistado, o então editor de desporto da SIC, Jorge Schnitzer, ficou rendido e convidou-o a entrar para a estação.
Nuno Farinha, ex-director da "TV7Dias" ainda recorda a maneira adulta como Daniel Oliveira chegou à sua mesa e apresentou uma série de propostas. "Eram ideias invulgares para uma pessoa daquela idade." O director, que já tinha ouvido falar do "miúdo da SIC sobre o qual se deveria escrever uma história", contratou-o na hora. Já naquela época, Daniel Oliveira chegou a acompanhar as férias dos jogadores, no Algarve. Nuno Farinha acredita que a persistência do apresentador que "é capaz de ir até Marte para conseguir uma entrevista" o leva até aos mais inacessíveis. Por outro lado, "há a história de vida dele que pode ajudar a criar empatia com alguns jogadores". Daniel Oliveira é filho de pais toxicodependentes e foi criado por uma tia e pelos avós. Aos 14, as lições de xadrez dadas pelo avô transformaram-no no campeão nacional da modalidade.
Em 2000, seria resgatado pela SIC para ser um dos fundadores da SIC Notícias. Todos os comentários de colegas e ex-colegas contactados pelo i vão dar a uma característica: profissionalismo. Se o tempo aperta, é o primeiro a sentar-se e a editar imagens."Ele não manda fazer, faz ele mesmo", conta Margarida Barreiras, que depois de trabalhar no "Só Visto" passou a subcoordenadora de alguns programas da SIC comandados por Daniel Oliveira. "Numa passagem de ano, regressou de um trabalho e foi directamente para o estúdio digitalizar imagens", recorda Sérgio Oliveira, que com ele trabalhou no "Só Visto". Gabam-lhe a capacidade de trabalhar horas infinitas, de pôr a mão na massa e a sua exigência. Do que mais gosta? Todos são unânimes: de trabalhar. Nuno Farinha vai mais longe: "Acho que ele nem gosta de estar de férias."
Pedro Boucherie Mendes, director doscanais temáticos da SIC, adianta que é "um dos melhores profissionais" que já viu trabalhar. "É completo, competente e não é daqueles que diz que faz e não faz nada. Fala pouco e faz muito." Problemas? Tem um. "É tão bom naquilo que faz que dificilmente o vão dispensar daquela posição", diz Boucherie. Daniel Oliveira conseguiu transformar todos os programas que conduz ou coordena como o "Fama Show" ou o "Alta Definição" em líderes de audiência naquele horário.
E se há quem acusa o primeiro de ser um desfile de miúdas giras sem cabeça e o segundo um programa de entrevistas lamechas, superficiais e com o objectivo de fazer chorar, Boucherie vê as coisas de outro prisma: isso indica que Daniel Oliveira tem olho para fazer televisão. "Ele não faz entrevistas para dizerem que é o melhor entrevistador, mas para conseguir resultados. Sabe muito bem o público que está a ver TV àquela hora e o que tem de lhes dar."
No final, há uma pergunta inevitável a fazer ao apresentador que está convicto de que ainda vai conseguir entrar em casa dos políticos: Daniel, o que dizem os seus olhos? "Dizem que o melhor ainda está para vir." Desta vez, sem câmaras, e a partir da África do Sul, não deu para ver se houve lágrimas.
Depois disso, o apresentador haveria de conseguir acesso directo a imagens exclusivas dos bastidores da Selecção Nacional. E essas já foram públicas. Em 2008, iria ainda mais longe. Já para a SIC, entraria em casa até do melhor jogador do mundo, para filmar partes do seu lado mais privado: as mansões com closets para mil pares de ténis por estrear, os calções de banho e os mergulhos na piscina, as excentricidades ou a simples relação com o animal de estimação. "Os Incríveis" mereceram até sketches na RTP. "Os Contemporâneos" imitaram o apresentador: "És feliz, migo?"
Daniel Oliveira, que muitos acusam de bajular jogadores e clubes para conseguir entrevistas, garante que não se desfaz em elogios nem força amizades. "Não confundo cordialidade com falsa veneração. Mas também nunca me julgo superior ao meu entrevistado e isso é capaz de explicar muita coisa."
À volta do programa, circularam todo o tipo de rumores, como o de que a Galp pagaria as entrevistas aos atletas. Daniel Oliveira nega. "É tudo jogo limpo. Abrem as portas porque querem e não têm nenhuma contrapartida. Já ouvi as mais variadas histórias e parecem sempre argumentos de perdedores."
O truque é não ter truques Daniel Oliveira garante que sempre marcou entrevistas pelo método mais banal: ou pela selecção ou pelos clubes. Beto, ex-jogador do Sporting, foi o primeiro entrevistado, ainda para o jornal "Penalty", que escrevia, editava e vendia quando tinha apenas 13 anos. Jorge Andrade é seu amigo de infância - era com ele que jogava à bola nas ruas da Amadora - mas nunca lhe abriu caminho para outros colegas. Ao contrário do que se diz, não era um emplastro dos treinos de futebol. "Vi alguns treinos como adepto e espectador, não para correr atrás dos jogadores." Chegou a ser escolhido nos treinos de captação do Benfica e do Estrela da Amadora, mas nunca se tornou jogador profissional.
Ricardo, ex-guarda redes da selecção nacional, não foi convidado a abrir as portas de casa ao apresentador, mas adianta que outros colegas escolhidos para "Os Incríveis" abriram "porque o Daniel é uma pessoa respeitada por todos e que transmite confiança ao grupo. Enquanto esteve connosco, foi um bom amigo da selecção." E acrescenta: "Nem precisa de insistir muito. Gostamos dele e os trabalhos do Daniel falam por si."
O apresentador reconhece que terá mais facilidade em chegar aos jogadores porque o que faz não tem propósitos jornalísticos: é puro entretenimento. A carteira de jornalista deixou de ser renovada mal entrou para a equipa do "Catarina.com", na SIC. "Eu posso tomar partido, fugir das polémicas. Estou ali para mostrar simplesmente o melhor daquela pessoa."
"'Os Incríveis' tiveram mais impacto, mas a primeira vez que entrevistei o Simão Sabrosa, por exemplo, foi em 1998." O rapaz que ia para o edifício da SIC fazer entrevistas para o seu jornal "Penalty" teve uma entrada precoce no mundo televisivo: aos 16 anos já era assistente de produção d'"Os Donos da Bola". Depois de estar do lado do entrevistado, o então editor de desporto da SIC, Jorge Schnitzer, ficou rendido e convidou-o a entrar para a estação.
Nuno Farinha, ex-director da "TV7Dias" ainda recorda a maneira adulta como Daniel Oliveira chegou à sua mesa e apresentou uma série de propostas. "Eram ideias invulgares para uma pessoa daquela idade." O director, que já tinha ouvido falar do "miúdo da SIC sobre o qual se deveria escrever uma história", contratou-o na hora. Já naquela época, Daniel Oliveira chegou a acompanhar as férias dos jogadores, no Algarve. Nuno Farinha acredita que a persistência do apresentador que "é capaz de ir até Marte para conseguir uma entrevista" o leva até aos mais inacessíveis. Por outro lado, "há a história de vida dele que pode ajudar a criar empatia com alguns jogadores". Daniel Oliveira é filho de pais toxicodependentes e foi criado por uma tia e pelos avós. Aos 14, as lições de xadrez dadas pelo avô transformaram-no no campeão nacional da modalidade.
Em 2000, seria resgatado pela SIC para ser um dos fundadores da SIC Notícias. Todos os comentários de colegas e ex-colegas contactados pelo i vão dar a uma característica: profissionalismo. Se o tempo aperta, é o primeiro a sentar-se e a editar imagens."Ele não manda fazer, faz ele mesmo", conta Margarida Barreiras, que depois de trabalhar no "Só Visto" passou a subcoordenadora de alguns programas da SIC comandados por Daniel Oliveira. "Numa passagem de ano, regressou de um trabalho e foi directamente para o estúdio digitalizar imagens", recorda Sérgio Oliveira, que com ele trabalhou no "Só Visto". Gabam-lhe a capacidade de trabalhar horas infinitas, de pôr a mão na massa e a sua exigência. Do que mais gosta? Todos são unânimes: de trabalhar. Nuno Farinha vai mais longe: "Acho que ele nem gosta de estar de férias."
Pedro Boucherie Mendes, director doscanais temáticos da SIC, adianta que é "um dos melhores profissionais" que já viu trabalhar. "É completo, competente e não é daqueles que diz que faz e não faz nada. Fala pouco e faz muito." Problemas? Tem um. "É tão bom naquilo que faz que dificilmente o vão dispensar daquela posição", diz Boucherie. Daniel Oliveira conseguiu transformar todos os programas que conduz ou coordena como o "Fama Show" ou o "Alta Definição" em líderes de audiência naquele horário.
E se há quem acusa o primeiro de ser um desfile de miúdas giras sem cabeça e o segundo um programa de entrevistas lamechas, superficiais e com o objectivo de fazer chorar, Boucherie vê as coisas de outro prisma: isso indica que Daniel Oliveira tem olho para fazer televisão. "Ele não faz entrevistas para dizerem que é o melhor entrevistador, mas para conseguir resultados. Sabe muito bem o público que está a ver TV àquela hora e o que tem de lhes dar."
No final, há uma pergunta inevitável a fazer ao apresentador que está convicto de que ainda vai conseguir entrar em casa dos políticos: Daniel, o que dizem os seus olhos? "Dizem que o melhor ainda está para vir." Desta vez, sem câmaras, e a partir da África do Sul, não deu para ver se houve lágrimas.
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