Clara de Sousa em entrevista

Clara de Sousa é uma das figuras mais emblemáticas da informação da SIC, canal a que chegou após passagens pela RTP e pela TVI. Sem querer falar do passado, a jornalista adianta que é em Carnaxide que se faz a melhor informação televisiva de Portugal. Para tal, salienta o papel de Francisco Pinto Balsemão.
A Clara de Sousa teve oportunidade de entrevistar todos os principais líderes políticos portugueses. Que leitura faz do actual panorama político nacional?
O País atravessa um dos momentos mais difíceis dos seus quase 37 anos de democracia, só comparável à crise dos anos 80, quando tivemos a intervenção do FMI. São tempos de que me lembro muito bem. Lembro-me da escassez de alguns produtos, do excesso de outros por falta de poder de compra. Lembro-me, no entanto, que as famílias, apesar de terem pouco, ainda conseguiam fazer alguma poupança.
E actualmente?
Hoje dificilmente o conseguem, o que agrava ainda mais a situação. Os tempos exigem modelos económicos claros e lideranças políticas fortes e que inspirem confiança. É isso que falta um pouco por toda a Europa. O défice é também de confiança. As pessoas até aceitam fazer sacrifícios mas precisam de ter a convicção de que vale a pena, de que o caminho que estamos a trilhar é o mais correcto.
E, na sua opinião, estamos no caminho correcto?
Neste momento, sinto que as expectativas não são nada animadoras para a maioria dos portugueses.
Como viu a saída de Manuela Moura Guedes da TVI?
Assisti a todo o processo de fora. Não tenho os elementos que me permitam ter uma opinião fundamentada. Mas, mesmo que os tivesse, também não acharia correcto fazê-lo. É uma matéria que não me diz respeito.
Seria um reforço interessante para a informação da SIC?
Essa é uma pergunta que terá de fazer aos responsáveis da estação.
Mas gosta do estilo de jornalismo que Moura Guedes pratica?
Sobre a Manuela Moura Guedes não me pronuncio mais. Não acho correcto fazê-lo. Nunca o fiz e não é agora que o vou fazer.
Teve oportunidade de trabalhar nos três canais generalistas. Que leitura faz da informação de cada um?
É verdade que trabalhei nas redacções dos três canais, mas em relação à RTP e, sobretudo, à TVI, são hoje muito diferentes dos tempos em que lá estive.
Como telespectadora, qual é a sua opinião?
Como telespectadora acho que cada um cumpre o seu papel, sendo que a SIC é a que tem o maior desafio: manter a credibilidade sem ser institucional e ser suficientemente inovadora, criativa e apelativa, sem ser sensacionalista. Temos uma informação independente, plural e adulta, que é uma das principais marcas da estação.
Onde encontra a informação mais independente?
SIC significa Sociedade Independente de Comunicação. Ou seja, desde o primeiro momento, desde que foi criada, que a independência está na matriz da estação. Temos o privilégio de ter um patrão que é jornalista e que sempre foi um grande defensor da liberdade de imprensa, ainda antes do 25 de Abril de 1974. Em todos estes anos sempre deu provas de que o principal património de uma redacção é a sua liberdade e a sua independência.
Francisco Pinto Balsemão é uma referência?
A este nível é uma figura inspiradora e de referência. Por isso, e respondendo à sua pergunta, a informação mais independente está na SIC.
Alguma vez foi pressionada enquanto jornalista?
Sim, já falei várias vezes sobre isso e não vale a pena estar a repisar sobre um acontecimento que aconteceu na RTP no final da década de 90.
Mas o que é que, exactamente, se passou na RTP?
Não vou repisar. Já não é importante.
E na SIC, alguma vez aconteceu?
Na SIC, onde estou há 10 anos, nunca sofri qualquer pressão ou tentativa de condicionamento do meu trabalho. Tenho total liberdade. Nunca deixei de fazer nenhuma pergunta que considerasse relevante a nenhum entrevistado. E também nunca ninguém me veio dizer que não devia ter feito determinada pergunta. Na SIC, o que recebi sempre foram desafios profissionais exigentes, autonomia e poder de decisão, além de um grande sentido de responsabilidade. Nunca, em nenhum momento, me faltou o incentivo e o apoio para dar o melhor de mim.
Como é a relação de trabalho com o Rodrigo Guedes de Carvalho?
É uma excelente relação entre duas pessoas que se respeitam pessoal e profissionalmente e que são amigas. Penso que isso era percebido por todos os que nos seguiam quando fazíamos dupla no ‘Jornal da Noite’.
Sendo jornalista, por que aceitou integrar um projecto de entretenimento como o ‘Família Superstar’?
Já na altura expliquei porque o fiz. Fazia sentido e nunca colidiu com o meu trabalho enquanto jornalista. Houve um maior grau de proximidade com o público, que sinto ter sido positivo. Estou convencida de que as pessoas não mudaram a sua opinião sobre o meu trabalho enquanto jornalista pelo facto de ter sido jurada do ‘Família Superstar’.
Analisando à distância, voltaria a fazê-lo?
Neste momento, não sei dizer-lhe se o faria mais uma vez. Dependeria do projecto. Mas, para ser muito franca, não é nada que procure ou que me preocupe.
Que programas gosta de ver na televisão?
Noticiários, programas de grande reportagem das cadeias britânicas e norte-americanas que passam regularmente na SIC Notícias, séries de vários géneros – da medicina a policiais – e talk shows, tanto portugueses como estrangeiros. Além disso, sou cinéfila e tenho uma longa lista de filmes para ver quando tiver tempo.
Que estilo de informação e de jornalismo é que aprecia mais?
Sabe... vou contar-lhe uma coisa que acontecia há muitos anos e que se perdeu um pouco...
Então?
Quando eu era miúda, fazia-se silêncio ao jantar para ver o noticiário, porque era importante sabermos o que estava a acontecer no País e no Mundo e de que forma isso nos afectava. Para mim, a hora das notícias sempre foi um momento solene. É assim que ainda hoje a encaro, enquanto jornalista/pivô e enquanto telespectadora. Há uma formalidade na comunicação que eu continuo a defender acerrimamente.
Existem outros projectos que gostaria de desenvolver em televisão ou noutras áreas para além da informação?
E tempo para isso? Há ainda muitas pessoas que pensam que o pivô de um noticiário chega uma hora antes para se maquilhar e pentear e ler depois as notícias. Pois vou dar-vos outra novidade: é uma ideia totalmente irreal. A preparação que exige um noticiário deixa pouco tempo para outros desafios. O próprio noticiário já é um grande desafio, todos os dias. Nós sabemos como começa e tudo pode acontecer de permeio. Temos de estar sempre preparados para qualquer eventualidade e dominar o stress que isso inevitavelmente também nos causa.
Mas, mesmo assim, tem conseguido fazer outro tipo de trabalhos...
Uma vez que divido a apresentação com o Rodrigo, tenho tido oportunidade de sair mais vezes do estúdio para fazer especiais de informação, entrevistas e debates, como foram, por exemplo, os frente-a-frente para as Legislativas do ano passado.
PERFIL
Clara de Sousa completa em Novembro 43 anos. Natural do Estoril, a jornalista começou por fazer rádio, em 1986. Em 1991 estreou-se no programa da RTP 1 ‘Há Desporto’. Dois anos depois rumou para a TVI, sendo um dos primeiros rostos da informação do canal de Queluz de Baixo. Ainda regressou à RTP, mas há dez anos que trabalha na SIC, onde faz parceria com Rodrigo Guedes de Carvalho no ‘Jornal da Noite’. Foi casada com Francisco Penim, de quem tem dois filhos. Em 2009 casou com André Marques.

Comentários

Anónimo disse…
ai que isto está paradito