Consultor para a Ficção na estação de Carnaxide, o actor afirma que a qualidade dos produtos está a crescer na SIC mas ainda falta fidelizar o público, tendo sempre uma novela em exibição.
Já terminou a participação na novela ‘Laços de Sangue’. Que balanço faz?
É muito positivo. A qualidade da novela é mais um passo em relação ao projecto anterior, ‘Perfeito Coração’. A consistência das audiências demonstra que há um público que foi conquistado com o ‘Perfeito Coração’ e que subiu um bocadinho. Não é, naturalmente, o patamar em que queremos estar. Não só em termos de público como também em termos de aumento da qualidade, que queremos ainda mais.
O que falta para dar o passo em frente?
Várias coisas mas, sobretudo, a continuidade é essencial, e julgo que desta vez vai acontecer. Se paramos de cada vez que fazemos um projecto, depois temos sempre que recuperar o tempo perdido. A partir do momento em que a rotina de produção se mantém, os outros problemas que ainda precisamos de resolver acabam por naturalmente se solucionar.
Ou seja, garantir que há sempre uma novela no ar para não perder público...
No mínimo.
As audiências da SIC estão a crescer neste horário e, ao mesmo tempo, há menos pessoas a ver a TVI. É aí que estão a ‘roubar’ público?
A SIC tem vindo a conquistar público nessa faixa horária e os indicadores dizem que esse público pertence maioritariamente às classes A e B. Temos uma equação trabalhosa: precisamos de manter este público e precisamos de conquistar mais gente, que estará na RTP, na TVI e noutros sítios. Mas o facto é que o público da SIC tem mais poder de compra e mais habilitações literárias.
Como é que está a ficção nacional?
Está cada vez melhor. O facto da novela da TVI ter ganho um Emmy é a ‘prova provada’ de que a ficção portuguesa está cada vez melhor e tem pernas para andar. Continuo a achar que está longe, em termos de quantidade e de qualidade, daquilo que deve ser um padrão e tanto a SIC como a RTP ainda não produzem o suficiente. Não falo apenas de novelas, mas de ficção de um modo geral. É preciso mais ficção na RTP e na SIC.
O que é que falta para a SIC liderar a ficção nacional?
Há algo que resulta sempre, que é a perseverança. Na SIC temos a convicção de que, leve o tempo que levar, a nossa ficção vai chegar cada vez mais longe entre o público, e o tempo já nos tem dado alguma razão. Não se pode é desistir e esperar por milagres.
Há algum actor que gostasse de ver na SIC?
Há vários actores no mercado que são interessantes, artisticamente têm qualidades, e que mais tarde ou mais cedo a SIC precisará deles e gostaria de os ter, mas isso é uma evidência.
Como funciona a relação com a direcção da SIC, com Luís Marques e Nuno Santos?
Muito bem, eles perguntam o que acham que têm que perguntar, eu respondo segundo o que sei, e temos conseguido um modus operandi que felizmente tem dado resultados. É evidente que gostaríamos que os resultados aparecessem mais depressa, mas as coisas são o que são e temos a consciência de que temos vindo a solidificar cada passo do caminho que temos que fazer.
E com a Gabriela Sobral?
A Gabriela faz parte da direcção da SIC e acontece o mesmo.
Teve uma produtora com o Nuno Artur Silva, a Pipoca. Gostaria de se envolver num projecto do género?
Não. A produtora já acabou há muito tempo, é um assunto resolvido. O meu lado empresário não funciona, não tenho qualquer propensão para gostar do poder, seja ele qual for, não me interessa rigorosamente nada. Aí exercia o poder porque aquilo era meu e do Nuno, já fui director da NBP, e o poder não me fascina absolutamente nada, é um capítulo da minha vida completamente encerrado.
Está confortável na SIC?
O objectivo que me trouxe para cá – ajudar a elevar o patamar da produção nacional, para que em todas as estações a quantidade e a qualidade seja cada vez maior – ainda não está cumprido. No fundo, o que estou a fazer é ajudar a preparar um panorama de trabalho no qual sou directamente interessado, porque sou actor. Portanto, estou confortável em todas as estações que me permitam ajudar a melhorar o produto nacional. Esse é o meu grande objectivo.
PERFIL
Virgílio Castelo nasceu em Lisboa, a 26 de Fevereiro de 1956. Desde cedo ligado à representação, foi um dos fundadores do Grupo de Teatro Adoque. O cinema surge em 1975 e em 1978 parte para Estrasburgo para estudar Artes Dramáticas. Quando regressa, a participação em novelas da RTP dá um novo impulso à carreira do actor, que já passou pelas três estações. Actualmente é consultor para a Ficção na SIC. É casado e tem três filhas.
SIC VAI ADAPTAR NOVELA DA GLOBO
Sem revelar qual o teor dos próximos projectos da ficção na SIC, Virgílio Castelo adianta apenas que o canal se prepara para produzir uma novela da rede Globo para substituir ‘Laços de Sangue’. "Será um texto adaptado para a realidade portuguesa de uma novela que já foi feita no Brasil", refere o consultor da estação de Carnaxide. "Não vai ser um remake", garante o actor, explicando que o canal vai "pegar nos troncos principais da trama e transformá-la numa novela portuguesa". A colaboração entre a SIC e a Globo, que passa pela cedência de profissionais de várias áreas, está presente no próximo projecto, o que agrada a Castelo, que considera que "a aliança deveria manter-se nos próximos anos".
CM
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