Rui Pêgo e a evolução na SIC

Filho de Júlia Pinheiro e Rui Pêgo, o jovem apresentador quer ser reconhecido pelo seu trabalho e não pelos apelidos que carrega.

- Estreou-se há dois anos como apresentador do programa ‘Curto Circuito’. Que balanço faz?
- É um balanço muito positivo. Tenho feito muitas coisas diferentes e a sorte de poder fazer o que quiser todos os dias, não ter censura e não ter de me autocensurar é óptima. Tenho essa vantagem. Portanto, é um balanço de uma enorme liberdade para aprender.
- Começou com 19 anos. Acha que foi cedo?
- Acho que foi um bocadinho cedo, mas não acho que haja uma altura em que se está mais ou menos preparado. Aconteceu muito cedo, mas se calhar na altura que tinha de ser. Foram tantas coisas ao mesmo tempo que acho que me fizeram crescer muito depressa.
- Sendo tão novo, os seus pais [Júlia Pinheiro e Rui Pêgo] apoiaram-no na decisão?
- Claro que disseram que devia concentrar-me na minha vida de estudante, mas fui ao casting sem eles saberem. Só quando já estava quase a saber que ia ficar é que os avisei. E eles lidaram bem com isso, sabiam que era inevitável e que quando eu meto uma coisa na cabeça é difícil mudar de ideias. Era uma coisa que podia pôr muitos pais de pé atrás e os meus também se preocupam, mas lidaram bem.
- Como foi o casting? Estava à espera de ficar?
- Não achei que fosse ganhar. Achei que havia uma possibilidade, porque sabia que tinha potencialidades que podiam ser utilizadas no programa, mas tinha noção de que era difícil. Era muito novo, achava que tinha de viver mais coisas, mas foi bom apostarem em mim. Foi um começo bastante auspicioso.
- Com dois apelidos tão fortes, acha que isso o ajudou?
- Quando fui para o casting, achei que os meus apelidos me poderiam prejudicar e nunca beneficiar. Mas hoje em dia já não penso sequer se me prejudica ou beneficia. São os meus apelidos, não posso fazer nada.
- Quando entrou para o ‘CC’ disseram que se notavam bem os genes do pai e da mãe e que tinha uma personalidade muito forte....
- Acho que a televisão faz-se de personalidades mas, lá está, a minha personalidade é minha e veio de todas as coisas por que passei até agora. Acho que tenho uma personalidade agradável.
- É mais parecido com a mãe ou com o pai?
- Sou uma boa junção. Sou muito equilibrado. Tirei dos dois lados coisas muito boas.
- É difícil carregar o peso de ser filho de quem é?
- Eu acho que está muito na cabeça das pessoas. Se se quiser que seja um problema, é um problema. Tem a ver com a nossa perspectiva. Se eu viver assim, não faço nada. Por isso não vale a pena sequer pensar nisso. Já me libertei disso.
- O facto de ser filho de uma apresentadora e de um jornalista motivou-o para esta área?
- Podia ter repelido, mas tive a sorte de ter sido exposto desde muito novo a esse mundo. Eu já tinha vontade e depois já conhecia o mundo, o que acabou por me dar mais conhecimento sobre a área e permitiu-me observar muito. É claro que também aumentou o meu desejo de querer fazer isto. Acabou por ser um incentivo, mas não foi uma coisa fulcral. Não é por eles serem apresentadores que passei a ser também. O que eu quero fazer é comunicar. A televisão é o meio em que me sinto mais à-vontade, mas agora estou a fazer algumas coisas na rádio e a escrever também…
- O que está a fazer na rádio?
- Estou a estagiar na Radar, comecei há pouco tempo, estou a aprender... e estou a pensar escrever uma sitcom para 2011, vamos ver se alguém quer, e também tenho outros projectos. Tento ter iniciativa e não uma atitude derrotista.
- E continua satisfeito no ‘CC’ ou acha que já era altura de fazer outra coisa?
- Eu gosto. É óbvio que, quando se está há dois anos num sítio, começa-se a imaginar o que se pode fazer. Também estou a tirar um curso de Ciências da Comunicação e da Cultura. Mudei, estava em Direito. E depois, com a rádio e outros projectos que tenho para o próximo ano, tento colmatar essa vontade de mudança.
- Foi ganhando alguma projecção e até já tem um clube de fãs no Facebook...
- Ai tenho!? Não sabia (risos). Em relação a isso tenho uma atitude muito distanciada. Acho graça, como é óbvio, que as pessoas gostem de mim, mas não é algo em que fique a pensar muito tempo.
- O que é que lhe costumam dizer?
- Que sou bonito, que tenho muita graça ou que sou maluco porque digo coisas fora do comum. Acho que devemos olhar para as críticas positivas e negativas com o mesmo distanciamento. O facto de existirem pessoas que gostam de mim é óptimo, mas não é aquilo em que penso quando me levanto às nove da manhã.
- Os seus pais criticam-no enquanto apresentador?
- Como é óbvio, eu falo daquilo que faço com os meus pais, mas não falamos de televisão à mesa constantemente. Falamos de outras coisas, porque somos uma família. Claro que ligo às críticas deles, mas não é algo que seja falado diariamente. Os meus pais não vêem o que eu faço e eu raramente vejo o que eles fazem.
- Não vê a ‘Casa dos Segredos’?
- Vi ocasionalmente. Acho que a minha mãe está muito bem, mas não sigo. Porque é o trabalho da minha mãe. Claro que apoio, vejo e digo aquilo que acho, mas não tenho uma atitude de constante visionamento. O que seria eu estar todos os dias em casa a ver o programa da tarde? Isso não acontece. Se a minha mãe trabalhasse nas Finanças também não iria lá saber quantas declarações de IVA é que ela tinha tratado naquele dia.
- Continua a viver em casa dos pais. Não sente necessidade de ter já o seu espaço?
- Às vezes. Mas não ganho o suficiente para ir viver sozinho.
- Acha que ganha mal?
- Não ganho mal, mas acho que tenho de ter as prioridades bem postas na cabeça. Se tenho uma vida confortável em casa, para que é que vou sair sem ter a noção se é aquilo que quero fazer e quando ainda estou a estudar?! Tenho imensa sorte de poder ganhar dinheiro na minha idade, mas não sou muito gastador.
- Em que é que gastou o primeiro ordenado?
- Fiz um seminário de escrita criativa, mas a partir daí não foi nisso que gastei (risos). Fiz um InterRail pela Europa de Leste o ano passado, mas não comprei uns ténis de mil euros nem nada do género.
- Sente que teve acesso a uma infância privilegiada?
- Tive a sorte de ter podido estudar em colégios privados, por exemplo, e acho que utilizei bem aquilo que me foi dado. Mas a minha infância foi muito normal e isso é uma coisa que gosto sempre de explicar. A minha vida é profundamente normal. Eu não vou a festas a iates nem bebo champanhe. Tenho uma vida normalíssima.
- Que responsabilidades tem em casa? Faz a cama?
- Não, quem faz a minha cama é a Judite, de quem gosto muito. É ela que trata dessas coisas todas. Mas devia, porque a minha desorganização vem também daí, por não ter de fazer isso.
- E a sua mãe não se chateia com a desarrumação?
- Claro que sim. Ela abre a porta do meu quarto e acha que vivo no fim do mundo, no caos, mas não é bem assim. Acho que as mães têm sempre essa interpretação...
- Sentiu as ausências dos pais, devido a trabalhos tardios?
- Uma coisa que sempre me foi incutido dos meus pais desde pequenino é: ‘Nós temos um trabalho que requer que estejamos presentes, mas quando estamos convosco estamos mesmo’. Sempre jantei todos os dias com os meus pais, muitas vezes almoçávamos e ligavam-me sempre. Mesmo hoje em dia, que as nossas vidas ainda são mais caóticas, porque eu também trabalho, é tudo normal. É uma vida em nada diferente daquilo que é a vida de toda a gente. Quem é que hoje em dia pode estar com os filhos à tarde a brincar? Ninguém...
- Chateia-o o facto de ser recorrentemente associado aos seus pais?
- Incomoda-me, porque eu sou eu e os meus pais são os meus pais. Mas percebo o interesse que isso suscita, porque a minha vida, como é óbvio, está ligada à deles.
- Deixou de fazer alguma coisa devido à sua exposição pública?
- Como é óbvio, tenho de me controlar em público, não posso desatar aos berros. Há excessos que não devo ter em público, quanto mais não seja porque estão sempre a olhar para nós e temos de ter noção.
- Quais foram os momentos engraçados que viveu no programa ?
- Há muitos. Uma vez desatei a deitar sangue do nariz em directo e continuei a apresentar com uma coisa no nariz.
- O seu avô materno morreu recentemente. Foi a sua primeira perda?
- Não, já perdi o meu padrinho, quando tinha 12 anos, depois foi o meu avô e agora este. Dói muito mas faz parte da vida.
- Falou-se que namorava com a Diana Bouça-Nova...
- Somos amigos. Aliás, ela tem namorado.
- E tem namorada?
- Não tenho, mas também não vou falar sobre isso. Sou tímido e recatado, por isso prefiro guardar essas coisas para mim.

INTIMIDADES
- Quem gostaria de convidar para um jantar a dois?
- O presidente da EMEL, para lhe pedir desculpa e o manipular de alguma maneira para não pagar as multas que tenho. Por acaso já tenho poucas, porque já as fui pagando, mas nunca se sabe o dia de amanhã.
- Não consegue resistir a...
- Donetes. Por acaso não gosto muito de doces, mas sempre que vejo donetes tenho de comer.
- Se pudesse, o que mudava no corpo e no feitio?
- Gostava de ser mais alto, mas estou bem assim. No meu feitio acho que, às vezes, sou um bocadinho distraído. Gostava de ser mais concentrado.
- Sente-se melhor quando...
- Quando não tenho maquilhagem. Percebo a função, mas não gosto nada.
- O que não suporta no sexo oposto?
- A neurose. Há mulheres, não todas claro, que são muito neuróticas e isso irrita-me porque acho que a vida tem de ser levada com mais calma.
- Qual o seu pequeno crime diário?
- Beber muitos cafés. Às vezes bebo sete e não percebo como é que isso aconteceu. Sempre que não tenho nada para fazer bebo um café. Há quem fume, eu bebo café.
- O que seria capaz de fazer por amor?
- Quase tudo.
- Complete. A minha vida é...
- Óptima.

CARREIRA
Apresenta, há dois anos, o programa ‘Curto Circuito’, da SIC Radical. Mas Rui Pêgo, de 21 anos, não quer ficar por aqui. Está a estagiar na rádio Radar e planeia escrever uma sitcom no próximo ano... Recentemente abandonou o curso de Direito para se formar em Ciências da Comunicação e da Cultura. Seja na rádio ou na TV, o jovem garante que o que quer mesmo é comunicar.

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