Alcides Vieira encara com serenidade as mudanças na TVI e diz que os trunfos do canal de Carnaxide estão na coerência editorial e na estabilidade.
A conversa dura mais de duas horas, mas o tempo passa sem que se dê por isso. Alcides Vieira, 52 anos, está há 34 anos no jornalismo, quase 30 deles passados na televisão. Esteve 11 na RTP e 18 na SIC, onde sempre foi director de informação. Mas confessa que não gosta da exposição que a televisão oferece. Prefere conversas longe das câmaras, gosta de falar sobre boas ideias, e é aí que se espraia. Os assuntos incidem sobre o modo como a SIC encara uma possível revolução na informação da TVI, o que prepara o canal de Carnaxide para responder a essa realidade. E como a crise política, social e económica que se vive em Portugal coloca desafios ímpares ao jornalismo.
Pela redacção coordenada por Alcides Vieira já passaram os responsáveis, não só de informação mas de programação, de outros canais - como José Fragoso, director de programas da RTP, Nuno Santos, actual director de informação da RTP, ou José Alberto Carvalho, agora na direcção de informação da TVI. E muitos jornalistas que dão a cara todos os dias por outras estações, como João Adelino Faria, Alberta Marques Fernandes e José Esteves, na RTP. E trabalhou também na redacção da SIC com o administrador da RTP Luís Marinho e com o próprio director-geral da SIC, Luís Marques.
Talvez por isso confesse que encara com muita serenidade as apostas da concorrência, mesmo quando a rival privada TVI, líder incontestada de audiências há seis anos, anuncia que vai "reposicionar" a sua informação no âmbito da entrada de José Alberto Carvalho e Judite de Sousa para a direcção de informação.
"Não se muda assim a informação de um canal de um dia para o outro", responde sobre a ambição de José Alberto. "As estratégias dos canais não podem ser erráticas. É preciso coerência editorial e persistência. Na SIC temos os mesmos pivôs nos respectivos espaços de informação no ar durante anos. É preciso criar familiaridade. Somos o canal que mais aposta em reportagem e há mais anos, temos dossiers temáticos. Isso é coerência."
Defende uma palavra para classificar o ambiente na informação da SIC: estabilidade. "A nossa estabilidade vem da força que o canal tem na informação. Sem uma equipa com qualificação muito acima da média isso não aconteceria. Temos profissionais que nos acompanham desde o princípio. Posso dizer que o núcleo duro do início da SIC mantém-se", diz, salvaguardando as saídas em 2001, quando Emídio Rangel, director do canal, saiu para a RTP. "Esta escola da SIC está nos canais da concorrência."
E acredita que a linha traçada por uma direcção de programas tem de acompanhar aquela que é a estratégia para a informação. Nesse caso não teme que apostas na área do entretenimento como Peso Pesado (versão portuguesa do sucesso internacional Biggest Loser), em que a SIC vai apostar agora em Maio, ou que a linha de orientação traçada para as manhãs da SIC, de cariz mais popular, fira essa máxima? Alcides Vieira desvaloriza a pergunta. "As grelhas da SIC não se estão a alterar assim tanto. As manhãs já seguiam a mesma linha há muito tempo. Tanto a programação como a informação dedicam-se, na sua generalidade, a pessoas jovens e activas, entre os 35 e 45 anos, muito exigentes e que interagem muito com a estação desde o primeiro dia. Lideramos nas classes média e alta, ao contrário, por exemplo, da RTP, dirigida a um público mais velho, com muitos espectadores de mais de 64 anos, que são um alvo mais passivo. Esta realidade reflecte-se muito na informação do canal."
Realça o património fundamental para a informação da SIC que é a SIC Notícias, líder no cabo e entre os canais de sinal fechado de notícias. "A SIC Notícias é uma referência." E só quer dizer uma coisa sobre a contratação de Manuela Moura Guedes para Carnaxide, com um programa (que se poderá chamar Rede Social) já muitas vezes anunciado mas que ainda não chegou: "Estamos a trabalhar um programa diferente do que se faz."
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