Daniel Oliveira "Queremos abrir o leque de convidados" do Alta

A infância marcada pela toxicodependência dos pais não deixou mágoas. Obstinado, Daniel Oliveira quer sempre mais e melhor. Ao lado de Andreia Rodrigues, o apresentador anseia por construir uma família feliz. 
Quando lhe perguntam "O que dizem os seus olhos?", responde sempre que "o melhor ainda está para vir". É a ambição que o move? 
Sim, e é a certeza de que outro tipo de pensamento não seria saudável. Se achasse que o melhor já passou viveria em angústia permanente. 
Como surgiu a ideia de publicar vinte entrevistas do ‘Alta Definição’? 
A televisão passa muito rápido e há coisas que as pessoas viram de passagem e não retiveram da melhor forma. Assim está escrito. A ideia era que coubessem muitas mais. 
Qual foi a entrevista mais difícil de fazer? 
Há entrevistas difíceis por razões diferentes. A do António Feio foi difícil porque estava a caminhar sobre uma linha muito ténue entre o que é privado – relacionado com a doença – e aquilo que ele queria expor. O que fiz foi deixar--me levar pelas respostas. A do Vítor de Sousa também foi difícil porque ele tinha acabado de expor a sua intimidade [sobre homossexualidade], e o tom das perguntas podia ser ofensivo. 
Diz que o segredo das suas entrevistas é nunca se sentir superior ao entrevistado. E inferior, já se sentiu? 
Não. Sinto-me em pé de igualdade. O nosso propósito é o mesmo. Sinto que há um momento de partilha em que eu tento descodificar uma série de detalhes. Sentir-me inferior significaria que eu estaria fascinado ou com receio de alguma coisa. E também não me sinto superior porque há tantas coisas que não sei e que aquelas pessoas que estou a entrevistar sabem que seria errado, do ponto de vista humano, pensar que não tenho mais nada para aprender. 
Há alguém que quisesse muito entrevistar e tenha recusado? 
Que tenha recusado não, mas falta-me entrevistar muitas pessoas, como o presidente do FC Porto. Além disso, queremos abrir o leque dos convidados ao âmbito político. 
Já houve alguma resposta positiva nesse sentido?
Já. Concretização da mesma é que ainda não, por força das agendas. 
Acha que os políticos se expunham "sem maquilhagem e sem tabus"? 
Acho que é um grande desafio. Tem muito a ver com a forma como os espectadores os vão receber. 
Deixou a carteira profissional de jornalista para poder fugir de polémicas e temas delicados? 
Não foi para fugir a polémicas. Quando fui para a RTP fazer a ‘Operação Triunfo’, não era um trabalho jornalístico: podia tomar partido, dar opinião, fazer publicidade... Não me escuso às minhas responsabilidades e nesse sentido farei as perguntas que tenho de fazer sem nenhum tipo de comprometimento com os entrevistados. 
Estaria disposto a combinar as perguntas antes da entrevista? 
Não, nem com políticos nem com ninguém. O programa tem um propósito de verdade. 
Já fez vários exclusivos com jogadores de futebol. Tem muitos amigos nesse meio? 
Tenho, mas também tenho amigos apresentadores e actores. Os programas que faço com jogadores acabam por criar essa imagem de que sou muito próximo deles, mas só sou de alguns. 
Há quem o acuse de bajular os jogadores para conseguir as entrevistas... 
Normalmente, as críticas têm dois patamares: ou as pessoas não gostam do meu entrevistado ou de mim, ou então são oriundas do meio em que trabalho e há a intenção dessa pessoa de fazer o mesmo que eu faço. Aquilo não são programas jornalísticos, são de entretenimento e isso significa ter alguma dose de espectacularidade. 
Cristiano Ronaldo abriu-lhe as portas da sua casa. Como conseguiu? 
Sempre achei que é um propósito benigno para o futebol dar voz e imagem aos artistas. Enquanto espectador, teria curiosidade em saber algumas coisas que são menos conhecidas, como ver se o Ronaldo joga à bola em casa e como é que joga... 
Que relação tem com ele? 
Falamos de vez em quando por mensagens. 
Também dizem que é arrogante. Como é que se defende? 
Não tenho de me defender. Se arrogância é obstinação, eu não me importo nada com isso. Às vezes tem a ver com uma cultura de exigência que é absolutamente necessária para fazer estes programas. Quem está perto de mim sabe que não é bem assim. 
É difícil trabalhar consigo? 
Não, se as pessoas tiverem essa exigência para com elas próprias.
Criou um jornal aos 13 anos. O que é que levou uma criança a interessar-se por jornalismo?
Era um interesse por comunicar. Dava-me a possibilidade de fazer uma coisa diferente.
Na altura idolatrava as estrelas de televisão. A fama fascinava-o?
Não, fascinava-me o mundo da televisão. Não acho que a fama por si só seja alguma coisa de relevante.
Tornou pública a dependência dos seus pais face à droga. Como é que nunca se desviou e era um aluno exemplar?
Fui sempre um aluno que cumpria, mas nunca fui exemplar. Acho que todos nós somos fruto das nossas circunstâncias e eu não tenho nenhum termo de comparação com nenhuma outra vida.
Nunca se sentiu uma criança revoltada?
Nunca me senti revoltado, sempre fui bem resolvido.
Que relação tem actualmente com os seus pais?
Boa, muito boa, muito saudável. Eles são muito novos, têm ambos 47 anos, e somos muito próximos.
O que recorda de melhor da infância?
As futeboladas com os amigos na rua, mesmo que estivesse a chover.
Queria ser jogador de futebol... Era o meu sonho, mas acabou por não se concretizar de forma efectiva. Agora jogo futebol de vez em quando para colmatar essa lacuna.
Mas a paixão continua...
Sim, sobretudo agora, direccionada para o meu primo [Diogo Salomão], que joga no Corunha. O futebol na infância tem uma importância vital, mas ao crescermos percebemos que há coisas mais importantes.
Aos 14 anos ganhou o campeonato nacional de xadrez. O que é que esse jogo lhe ensinou?
É muito norteador na forma como eu vivo a minha vida e sei antecipar problemas. Tenho mais do que um caminho como opção.
Dois anos depois chegou à redacção da SIC. Alguma vez pensou chegar onde está hoje?
Não, nunca. Era inimaginável, mas de alguma forma esse pensamento continua a existir, isto é, continuo sempre a achar que isto pode acabar amanhã. Vai haver um dia em que aparecerá alguém para ocupar o meu lugar. Não é que viva em angústia, mas sei que isto pode mudar de um dia para o outro.
Como começou a trabalhar novo, acha que perdeu uma parte importante da juventude?
Perdi a adolescência a partir dos 16 anos, mas também vivi intensamente. Só não pude privar tanto com os amigos.
Está atento ao que escrevem sobre si na internet?
Sim, sim. É importante estar sintonizado com a realidade, mas procuro relativizar. Não serei tão bom como algumas pessoas dizem, mas também não sou tão mau.
Sempre foi muito cioso da vida privada. Isso está relacionado com o facto de ter trabalhado numa revista de social?
Não, tem a ver com o facto de gostar que seja assim. É a preservação de um espaço que é meu, mas sem dramatismo. Sou por natureza muito recatado, mas não ando escondido.
(...)
Como "o melhor ainda está para vir", o que se segue ao ‘Alta Definição’?
‘Alta Definição’. É assim que eu vivo. Não digo, como a maior parte dos meus colegas, que o meu sonho é ter um talk show. Não estou no programa de forma transitória, isto é, não o sinto como: ‘estou a fazer isto, mas o meu sonho é fazer aquilo’.

INTIMIDADES
Quem gostaria de convidar para um jantar a dois?
A Andreia.
Quem é, para si, a mulher mais sexy do Mundo?
A minha mulher.
O que não suporta no sexo oposto?
Muito poucas coisas me irritam realmente nas mulheres...
Qual é o seu maior vício? Mandar mensagens de telemóvel. Qual foi o último livro que leu?
A ‘Relíquia’, de Eça de Queiroz.
O filme da sua vida?
Gostei muito do ‘Crash - Colisão’.
Cidade preferida?
Sou completamente fascinado por tudo o que o Rio de Janeiro tem para oferecer.
Um desejo?
Ser pai.
Complete. A minha vida é...
Pouco dormida.

PERFIL
Daniel Oliveira tem 30 anos e é produtor e apresentador do programa ‘Alta Definição’, da SIC, cargos que concilia com a coordenação do ‘Fama Show’. Foi um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias e o autor do ‘Só Visto’, da RTP 1. Lançou este mês o livro ‘O que Dizem os Teus Olhos’. Namora com a repórter da SIC Andreia Rodrigues.

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