Líbia, nove da manhã. 19 de Janeiro. Já lá vão mais de 10 anos. João preparava-se para cumprir um sonho: enfrentar o imenso deserto. Estava confiante. Sorridente. Poucos dias antes tinha vencido duas etapas. Ao volante seguia o experiente Carlos Sousa. João era o navegador estreante. O calor apertava. O carro ia na máxima velocidade.
Os cinco concorrentes já tinham ficado para trás. A meta no Egito estava mais próxima. No horizonte mais do mesmo: areia, pó e dunas. O perigo espreitava. Mas nunca os dois portugueses pronunciaram a palavra desistir. Até um dia.
Ao quilómetro 63, pouco depois do início da 13ª etapa, tudo mudou. Uma terrível armadilha surgiu no caminho. Sem aviso prévio. Fugir ao destino era quase impossível. Quando, Sousa tentou travar, foi tarde de mais. O carro onde seguia voou dezenas de metros sobre uma duna. O embate com o solo foi violento.
João Luz deixara, de imediato, de sentir as pernas.
Tentou arrastar-se para fora do veículo. Mas nem isso conseguiu. As dores eram muitas. Da cintura para baixo nenhuma sensibilidade.
Meia hora depois chegava o helicóptero com os primeiros socorros. Antes e já sem alternativa, João e Carlos pressionaram o botão onde jamais admitiram tocar: estavam automaticamente desclassificados do maior rali do mundo. O sonho de chegar às famosas pirâmides do Egito chegara ao fim. Estavam, os dois, entregues ao próprio destino.
Foram transportados para um hospital na Tunísia. O diagnóstico de João, como se pensava, era o mais grave: duas vértebras esmagadas e paraplegia incompleta.
A gravidade do caso obrigou a mudança de planos.
Foi transferido para um conceituado hospital de Paris. Foi operado. Recuperou. Piorou. Melhorou. Nunca mais foi o mesmo. Mais tarde, acabaria por voltar à cadeira de rodas.
Agora, mais de 10 anos depois, João é outro homem: mais maduro; mais forte; mais sensível. Só pensa em cumprir o sonho de uma vida...entrar num carro e concluir o que aquela maldita duna, algures na Líbia, não deixou. Não perca o testemunho no ‘Perdidos e Achados’ do próximo sábado.
Jornalista: Pedro Freitas
Imagem: Jorge Pelicano
Edição de Imagem: João Nunes
Produção: Madalena Durão; Diana Matias
Coordenação: Sofia Pinto Coelho
Direcção: Alcides Vieira
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