Luís, Finura e Abreu são figuras reais do imaginário popular.
Postais vivos que se fundem nas lendas e nos mitos das cidades, tantas vezes invisíveis à maioria apressada. São o rosto do estigma e da liberdade. Todos os conhecem mas poucos sabem as suas histórias, reinventadas de geração em geração.
Luís Pais Martins nasceu em Évora há 71 anos e foi caixeiro-viajante por todo o país. Há 24 anos abandonou o trabalho, a mulher e o filho porque diz ter sido escolhido para uma missão divina. Para “salvar a cidade” passa os dias a vaguear pelas ruas de Évora. O filósofo, como muitos lhe chamam, é seguido por quase duas mil e quinhentas pessoas no Facebook. Na página criada em homenagem a Luís há fotografias e mensagens de apoio ao homem que muitos admiram mas que poucos conhecem realmente.
Especialista em trabalhos não especializados.
É assim que Francisco Augusto Finura se apresenta. Autodidata, homem de mil ofícios, diz ser professor de hipnose, psicanálise, ilusionista, faquir, toureiro, mergulhador, industrial de conserva e serralheiro. Nasceu em Setúbal há 82 anos e já perdeu a conta ao que fez na vida. Diz-se um visionário, um homem incompreendido num país demasiado pequeno.
Quem o vê de batina e terço ao peito nas ruas da Guarda pede-lhe a bênção. Aos 54 anos, António Abreu não é padre mas gostava de ser.
Há 25 anos, foi condenado a dois dias de prisão, com pena suspensa, por ter celebrado um funeral. Reformado por invalidez, trabalha numa funerária no centro da cidade. Conhecido por todos, Abreu é ao mesmo tempo o rosto do estigma e da solidão.
Jornalista: Maria Miguel Cabo
Imagem: Jorge Pelicano
Edição de Imagem: Rui Rocha
Produção: Isabel Mendonça
Coordenação: Cândida Pinto
Direção: Alcides Vieira
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