António José Teixeira "As réplicas não são projectos vencedores"

No 11.º aniversário da SIC Notícias, o seu director acredita que o canal vai continuar a ser líder. Mantendo sempre o que chama de «traves mestras», a independência e a credibilidade 
Acredita ser possível os outros dois canais de informação virem a tocar as audiências da SIC Notícias. Ou a corrida é outra?
A corrida da SIC Notícias, desde o primeiro momento e já vão 11 anos, foi sempre uma corrida vencedora. E a minha convicção é a de que vamos continuar a vencer. 
Mas a SIC Notícias faz um caminho diferente da RTP Informação ou da TVI24? 
Parece-me, correndo o risco de poder ser injusto, que aquilo a que temos assistido nos canais de informação tem sido uma réplica da SIC Notícias. Em regra, as réplicas não são projectos vencedores. 
Tendo os três canais de disputar o mesmo público, há lugar para a mudança na SIC Notícias ou isso deverá caber à RTP e à TVI? 
Todos os anos fazemos questão de renovar o nosso caminho, de criar coisas novas, de mudar formatos, de alterar a nossa imagem. 2011 foi um ano em que mudámos imenso a nossa oferta. Mas isso não quer dizer que não mantenhamos as traves-mestras, porque tentamos mantê-las e reforçá-las o melhor que podemos. 
Que traves são essas? 
Estar na primeira linha da actualidade. Isso é uma corrida que não queremos desproteger. E conjugá-la com prolongamentos de debate, de análise, de comentário que possam enriquecer e tornar útil a informação que produzimos. Isto não é um canal de entretenimento, é um canal de informação e levamos muito a sério essa tarefa. Tentamos ser criativos, inovadores, mas sem esquecer que, em primeiro lugar, devemos ser independentes e credíveis. Isso para nós é a Bíblia. 
O canal pode ser considerado um spin-off da SIC ou essa questão não se coloca? 
As dúvidas sobre a SIC Notícias já não se colocam muito. Tem 11 anos, nasceu com uma identidade própria e fez o seu caminho, que passou por uma integração na máquina informativa da SIC. 
Consegue perceber por que a informação da SIC não lidera sempre e a informação da SIC Notícias é líder? 
As responsabilidades de um canal generalista comercial são diferentes das de um canal temático de informação. Os campeonatos que estão em jogo são diferentes. Cruzam-se muitas vezes, têm públicos-alvo que muitas vezes são semelhantes, mas são canais diferentes. Mas a informação da SIC é também uma informação vencedora e tem uma história que faz 20 anos agora em 2012, com muitos pergaminhos que temos orgulho em preservar. 
Esses pergaminhos têm a ver com as características que sempre foram apontadas à SIC, enquanto canal com informação inovadora? Isso mantém-se? 
Se virmos com atenção o que têm sido os formatos informativos criados em Portugal, tudo o que se criou à volta dos jornais, sejam espaços de reportagem, sejam espaços de debate, foram espaços aqui iniciados. Não temos a pretensão de ter inventado a pólvora. A pólvora já estava inventada há muito tempo. Mas temos a pretensão de ter acrescentado valor na atitude perante a actualidade. No ano em que foi convidado para director da SIC Notícias tinha sido demitido de director do DN. 
Onde se sente mais à-vontade, na televisão ou nos jornais? 
Na altura em que saí do DN, mantive a minha ligação à comunicação social através da TSF e da SIC Notícias, onde sou comentador há precisamente 11 anos. Estive aqui no primeiro dia do canal. E o novo desafio foi um apelo irrecusável, porque o apelo do jornalismo continuava a fazer sentido. Agora, a minha aproximação à comunicação foi pela rádio. Colaborei na Rádio Comercial, na Rádio Universidade Tejo e, antes disso, numa pequena rádio da Guarda, a Rádio Altitude, um tempo de que me orgulho muito, em que me deixei atrair por este mundo. Dei os meus primeiros passos e aprendi muito nessa rádio local, uma rádio com uma história muito curiosa que ultrapassa em muito a história das rádios locais que conhecemos. 
Porquê? 
Porque era um emissor de onda média, criado num sanatório, há muitas décadas. Não sei precisar, mas terá surgido nos anos 50 do século passado. Uma aventura muito particular e muito interessante. Fala dessa rádio com imenso entusiasmo… No tempo em que em Portugal não havia praticamente rádios locais e em que não havia televisões a não ser a pública e que a rádio, além da Renascença, era apenas a rádio pública, imaginar que havia no interior do país uma rádio muito ouvida naquela região era uma aventura absolutamente fantástica. Acho que o meu começo foi influenciado por esse trabalho de muitas horas na rádio. Foi uma marca forte e importante. Nós percebíamos o impacto que tínhamos junto das pessoas e isso nunca se esquece. 
Mas já se sente melhor em frente às câmaras do que na imprensa onde depois fez carreira? 
Nunca podemos dizer que já aprendemos tudo. Digamos que continuo a pensar que estou a aprender, a aprender enquanto jornalista em vários meios. O ter passado pela rádio, imprensa e televisão enriqueceu-me e tornou-me um jornalista mais completo. Em que momentos se sente mais confortável: nas entrevistas ou no comentário? Não sei responder. O exercitar de vários géneros jornalísticos faz parte do que é suposto ser um jornalista. Creio que um jornalista que nunca tenha feito uma entrevista não é um jornalista completo. Ou que não tenha feito uma notícia, tão simplesmente como isso. Agora, se me pergunta se gosto de fazer entrevista, gosto. 
Preocupa-se com a sua imagem em antena? 
Tive sempre uma preocupação: tentar não me trair, ser eu próprio e aquilo que realmente penso em cada momento. Para quem está perante uma câmara, perante um microfone numa rádio ou também a escrever, o desafio é sermos nós próprios, o mais espontâneos que conseguirmos ser. O que tentei sempre foi dizer o que penso, sem estar preocupado se parece bem ou mal. Embora saiba que nos momentos em que falamos convém que não tenhamos ruídos que perturbem a mensagem. 
Visiona-se? 
Muito raramente. Para ser franco, não tenho muito tempo. 
Acha que a SIC Notícias entrou com o pé direito em 2012? 
Acho que sim. Estamos conscientes das dificuldades que o país e nós próprios temos pela frente. Desse ponto de vista, é mais um desafio a acrescentar aos que temos todos os anos: renovarmo-nos, reforçarmo-nos, mantermos valores firmes de independência e credibilidade. O que fizemos em 2011, e que agora no início do ano fica claro, deixa-nos convictos de que temos suficiente força para fazermos de 2012 um ano melhor do que pintam. 
O que o preocupa mais no que respeita à crise dos media? 
Aqueles que hoje têm responsabilidades políticas neste sector devem ter em atenção que estamos a viver tempos mais exigentes, em que a liberdade do jornalismo pode sentir-se ameaçada se a comunicação social não tiver autonomia económica. Isso preocupa-me.
SOL

Comentários